Forças Especiais da Ucrânia e os Mercenários Wagner Group levam a guerra para a África e se enfrentam também no Sudão – O Front

Vinicius Portela Por Vinicius Portela 6 min de leitura

Forças especiais ucranianas estão no Sudão ajudando o Exército local a enfrentar mercenários russos do Wagner Group, que no país africano apoiam a milícia armada Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês). A constatação foi feita a partir de um vídeo divulgado pelo jornal Kyiv Post, com informações reproduzidas pelo jornal The Guardian.

Atribuídas à inteligência ucraniana, as imagens mostram um prisioneiro russo sendo interrogado ao lado de dois africanos. O cativo afirma que é membro da empresa militar privada russa e que entrou no Sudão a partir da República Centro-Africana, acompanhado por uma força de cerca de cem pessoas focada em derrubar o governo sudanês.

A AUTENTICIDADE DO VÍDEO NÃO FOI CONFIRMADA DE FORMA INDEPENDENTE, mas este NÃO É O ÚNICO INDÍCIO de que as tropas ucranianas estão na ativa no Sudão, como uma jogada de Kiev para enfrentar os russos além das linhas da guerra na Ucrânia.

Imagens divulgadas anteriormente mostraram ataques com drones kamikazes contra as RSF, ação semelhante às de Kiev na guerra. Isso levou a uma conclusão inicial de que essas operações foram coordenadas por forças especiais ucranianas. Também há relatos sobre a ação de um “atirador de pele clara” atuando no Sudão, sendo identificado como ucraniano nas redes sociais.

Em setembro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se encontrou com o chefe do Exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, no aeroporto de Shannon, na Irlanda. Na ocasião, o líder ucraniano afirmou que foram discutidos desafios de segurança comuns, especialmente as atividades de grupos armados ilegais financiados pela Rússia.

Além disso, Kiev tem realizado operações dentro do território russo como parte de uma estratégia para obter vitórias de propaganda contra seu inimigo e demonstrar que suas forças podem atuar em qualquer lugar, apesar de terem pouco impacto militar.

Desde abril, o confronto entre as RSF e as Forças Armadas Sudanesas (SAF) avançou para uma guerra civil que já provocou mais de 13 mil mortes e o deslocamento de mais de sete milhões de pessoas no Sudão, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).

A presença do Wagner Group no conflito não surpreende. Criada em 2014, a organização paramilitar atua como fornecedora de combatentes mercenários e é acusada de executar operações controversas em nome da Rússia em locais como Síria, Líbia, República Centro-Africana, Moçambique e leste da Ucrânia, com alegações de violações dos direitos humanos por parte de seus membros.

Atualmente, o Wagner enfrenta rumores de que esteja sendo dissolvido após a morte de seu chefe, Evgeny Prigozhin. Outra ameaça seria a formação de uma força expedicionária no continente africano pelo Ministério da Defesa russo, o Africa Corps, que estaria na ativa para substituir os mercenários. Ainda assim, o grupo segue forte, inclusive faturando alto com a exploração de recursos naturais.

Sudan’s paramilitary Rapid Support Forces (RSF) soldiers secure a site where Lieutenant General Mohamed Hamdan Dagalo, the deputy head of the military council and head of RSF, attends a meeting in Khartoum, Sudan, June 18, 2019. REUTERS/Umit Bektas

Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão realizaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.

Os números de civis mortos e vítimas de abusos diversos não param de crescer desde então. A situação levou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, a dizer em julho que o país africano está “à beira de uma guerra civil“, com ao menos sete milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas.

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